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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

arte da (autos)suficiência



torna-se suficiente aquilo que sacia, sem carências nem nímias. torna-se suficiente tudo o que não falta e não excede -simultaneamente-. é por isso que me tornei suficiente a tudo e a todos os que de mim precisam e a todos os que de mim não necessitam tanto assim. ser suficiente é ser prudente para não deixar faltar e competente para não extravagar.. ainda que aquele seja mais importante (e difícil!) do que este. transformei-me, pois, em suficiente, quando o autossuficiente não era suficiente; quando eu precisei de alguém suficientemente eficiente na mesma ideia de ser nada mais, nada menos.
tornei-me suficientemente diferente quando acreditei que a diferença me faria suficientemente interessante. suficientemente igual quando percebia que a obsessão pela dissemelhança era menos o que da sua essência me atentava do que um complexo para ser notado. tornei-me suficientemente pequeno quando a grandeza sinonimizava prepotência, arrogância e arbitrariedade e suficientemente grande quando o diminuto traduzia obsolescência, servilismo, subalternidade.
tornei-me suficiente, enfim, quando compreendi, vi e vivi o mais do que suficiente e posterior pouquidade. A glória do tudo e o fracasso do nada. ou a glória do nada e o fracasso do tudo. tanto faz. tornei-me suficiente para não presentear expectativas quando o medo da decepção me parecia tão mais forte. maior. tornei-me, por fim, suficientemente suficiente. no mais amplo sentido de suficiência.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

lúcida loucura solitária

tudo é perfeito
perfeito tudo está
imperfeito
me impede sonhar
acordado; em claro
claro tudo está
escuro
me impede olhar
o óbvio; o previsível

fujo do previsível
previsível é previsível demais...

que fazer, senão aceitar o previsível?
improvisar eu mesmo?

feliz sozinho é louco
louco sozinho é previsível
felicidade sozinha é imprescindível
imprescindível é ser louco

loucos estamos
louco estou
sozinho
outra vez.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

aprendi a não concluir


aprendi que quem cala, não necessariamente, consente...
concluí que o silêncio, às vezes, vale mais do que milhares de palavras. 
aprendi que amar é respeitar, mas nem sempre respeitar é amar...
concluí que só se pode amar respeitando, embora, às vezes, só se respeite impondo.
aprendi que o choro é o sorriso da tristeza e que o sorriso é o choro de alegria...
concluí que chorar é sorrir e que sorrir, às vezes, é pura fantasia.
aprendi que ensinar é uma virtude e que aprender é uma questão de vontade...
concluí que ensinar é aprender e que aprender não é, necessariamente, ensinar.
aprendi que para um fim tem de existir um começo e que os meios são consequências de um final já estabelecido...
concluí que o que se muda é apenas o jeito de começar.
aprendi que o medo é para os fortes.
concluí que só os mais fortes serão suficientemente fortes para encará-los de frente.
aprendi que o sucesso só vem antes do trabalho no dicionário... 
concluí, contudo, que é preciso trabalhar, trabalhar, trabalhar... sem esquecer que as ‘vírgulas’ representam o descanso.
aprendi que sonhos são realidade quando deixam de ser sonhos e que realidade é sonho quando deixa de ser realidade...
concluí que todo sonho é baseado numa realidade, ainda que nem toda realidade esteja baseada em sonhos.
aprendi que pensar nos outros é relativamente fácil. difícil é pensar neles antes da gente...
concluí que se colocar em primeiro lugar não é questão de egocentrismo, mas uma questão de bom-senso.
aprendi que não conhecemos ninguém completamente, pois levamos uma vida inteira para conhecer a nós mesmos...
concluí que para conhecer é preciso amar e que para amar é necessário conhecer e reconhecer.
aprendi que pequenos detalhes resultam num grande momento e que pequenos momentos são frutos de grandes detalhes...
concluí que, dependendo da situação, momentos são detalhes e detalhes são momentos.
aprendi que as leituras mais úteis são aquelas que leem coisas que não estão escritas...
concluí que as pessoas que não leem tais coisas são os ‘analfabetos’ da vida.
aprendi a errar.
concluí que os erros são os melhores acertos que podem nos acontecer.
aprendi, sobretudo, que concluir delimita uma conclusão e que, por isso, é melhor só aprender..
aprendi que, no final, eu vou olhar pra trás e perceber que tudo não passou de uma grande piada - sem graça - e que eu ainda não vou ter aprendido tudo o que precisava.
aprendi que o ‘agora’ já é passado e que o ‘daqui a pouco’ também vai ser. tudo é uma questão de tempo. aprendi que as três melhores coisas do mundo, na verdade, podem se resumir a duas: família.